sábado, 28 de janeiro de 2012

Sobre o medo. . .

"Existe terapia pra quem tem medo da vida?"
_ Depende do medo.
"Do que a vida é feita?"
_ No fundo a vida é feita de superação. Em alguns momentos estamos bem, em outros mal, temos derrotas, vitórias, ganhamos presentes, perdemos as coisas que mais amamos; por isso a grande sacada da vida é saber superar; saber superar até os bons momentos, pra que não se tornem idéias fixas, modelos de qualquer coisa, temos que estar preparados para esse jogo de "lá e cá" a que somos submetidos o tempo inteiro.
"E quem tem medo disso?"
_ Medo da superação?
"Medo do jogo. Do sofrimento, do confronto com as situações, da perda, da solidão."
_ É inútil porque não dá pra fugir disso; ninguém vive assim.
"Eu vivo."
_ Não. Você simplesmente não está vivendo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Considerações sobre o sentimento. . .

"O que o cheiro de um perfume pode provocar em alguém?"
_ Sensações totalmente inesperadas: saudade, vontade, tristeza, sorrisos, arrependimento, raiva, nojo...
"Agora me diz como conseguimos guardar as lembranças que nos remetem a essas coisas? Não estou perguntando algo científico, me refiro a parte emocional de cada um. De que "matéria", de que "textura" é feito o nosso sentimento? Essa coisa inatingível tantas vezes, de memória imortal e extraordinária que guarda cada mínima sensação, cada sílaba do que o consegue alcançar.
Coisas tais como o cheiro de algo ou alguém e aí se abre um universo de pequenas teclas coloridas onde são guardados os sons de cada momento, cada coisa e de cada pessoa inesquecível. É tão fantástico o contato desses dois mundos que se unem somente na imaginação; porque os pensamentos são abstratos, não podemos dividir e nem provar por A mais B que eles são coerentes, afinal existem
somente em um universo singular."
_Não dá pra saber do que é feito o sentimento, até por que não é algo assim como uma palavra apenas, o sentimento se divide em várias palavrinhas, ramificações, como uma matriz e suas filiais, como uma grande empresa e seus escritórios espalhados pela grande cidade que nesse caso seria a nossa vida.
"O amor é uma ramificação?"
_ Sim, uma ramificação muito importante para o resultado final que seria a essência de uma pessoa ou o que inicialmente você chamou de sentimento; essa se divide em duas partes: se amar e amar alguém. Sem o equilíbrio entre ambas o "escritório" não rende e os "lucros" não chegam a "grande empresa", isso a impede de crescer completamente. Trocando em miúdos: Você pode ter uma boa dose de esperança, de paz, do medo que te instiga a dar novos passos para descobrir e vencer
os desafios, de amizade, coragem, fé... mas se não tiver a dose de amor da qual sua alma necessita, nunca estará completamente pronta para nada.

Continuando. . .

'Essa noite eu sonhei que estava viajando, mas no sonho eu fazia o trajeto contrário e esperava chegar no mesmo lugar."
_ Percebeu quantas vezes você já deve ter feito isso na sua vida?
"O que? Pegar o onibus errado e esperar chegar na cidade certa?"
_ Pegar o caminho errado e esperar chegar no lugar certo, tomar a decisão errada e esperar ter o resultado certo ou mesmo amar a pessoa errada e esperar receber de volta o amor certo.
"Acho que sempre acontece, principalmente a parte de amar a pessoa errada, na verdade se analisarmos direito, o caminho errado e a decisão errada geralmente levam a pessoa errada."
_ Exato, uma sucessão de erros tão comuns que até passam despercebidos e no fim sempre terminamos perguntando: "Mas por que isso aconteceu comigo?"

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Conversa de botas batidas"

"Por que será que a minha cabeça sempre me pareceu meio desaparafusada?"
_ Deve ser por que ela é desaparafusada mesmo, mas isso não quer dizer algo tão ruim.
"Como não quer dizer algo tão ruim? Estamos falando da minha cabeça, aliás, não somente disso; você sabe o tanto de problemas que uma cabeça desaparafusada pode trazer?"
_ Tudo bem. Vamos esclarecer: Uma cabeça desaparafusada quer dizer que você tem uma mente um pouco fora do eixo, pensamentos comuns não fazem muito o seu gênero, acertei?
"É... Acho que sim... Na verdade você tem toda razão. Sabe que quando eu era criança, achava que só existiam dois países no mundo, o Brasil e o Japão; vê se pode, eu ignorava a existência do resto do mundo e achava que eu era muito esperta por me dar conta de que existia um outro país muito distante; quando minha mãe me deixava sozinha na casa da minha vó, eu convidava a Dona Maura pra brincar de adivinhação comigo, essa era uma sobrinha da minha vó, tinha idade avançada e não tinha muito estudo, então eu perguntava presunçosa: "Qual o nome de um país com a letra J?" Ela, claro, nunca acertava, até porque eu nem dava muito tempo pra pensar, dizia logo: "É o Japão!" E sorria vitoriosa. Ilusões infantis.
_ Sem essas tais ilusões infantis a vida não seria a mesma; já imaginou uma pessoa sem histórias da infância pra contar?
"É, mas as coisas certas vezes deveriam ser menos traumáticas. Por exemplo: Eu apanhei quando resolvi voltar sozinha do colégio pra casa; minha irmã não entendeu que eu estava no início do meu convívio com o mundo, precisava da experiência. Eu fazia a quarta série se não estou enganada, todos os meus coleguinhas já iam pra casa sozinhos, eu queria tentar e me sairia muito bem se ela não tivesse  me encontrado a três quadras de casa. Não sei se tem algo a ver, mas depois disso comecei a ter medo de ir pra lugares muito distantes, achava que não conseguiria voltar.
_ Isso deve ter acontecido com várias crianças da mesma idade que você em algum momento, mas o fato é que você deve ter uma facilidade pra desenvolver traumas; coisa que sua família não deveria saber.
"E ainda não sabem" (risos)
"Em resposta a todas as maluquices que se formavam na minha mente após cada experiência, eu mudei totalmente meu comportamento quando passei pra quinta série; mudei de colégio, de letra, de modo como me vestia, quase tudo. Parece até que antes disso eu era outra pessoa.
_ Você tava crescendo e ganhando força pra ser quem realmente tinha que ser.
"Mas será que a gente sabe mesmo quem realmente tem que ser?"
_ Bem, essa é uma boa pergunta. Acho que talvez no segundo que antecede a morte, cada um sabe quem deveria ter sido, nossa história vai sendo escrita de forma imperfeita, sem garantias de acertos, mas deve existir algo que nos leva a cada escolha por algum motivo.
"Eu penso nisso todos os dias, se existe mesmo esse algo ou alguém, alguma coisa que guia nossas escolhas, nossos caminhos de algum modo. O que seria Deus no meio de nós? Por que pessoas morrem em circunstâncias tão inesperadaas, às vezes deixando no ar algo como uma indagação, uma afronta às nossas certezas e incertezas; pra mim a fragilidade do ser humano é algo desleal; desleal com a nossa ânsia de vida."
_ Será que se o ser humano não fosse tão fragil ele seria pior do que vem mostrando ser? Será que a certeza de sua força não seria um estimulo maior para as maldades e a destruição que vem sendo cultivada? Se mesmo com a vida sendo posta em "xeque" diariamente o homem se auto-afirma o tempo todo, imagine como seria se sua natureza não fosse passageira.
"Eu estou me referindo a maioria que não tem esse poder de destruição nas mãos, a maioria que sai de casa pra trabalhar duro diariamente, que luta pra manter os filhos em um bom colégio, que acredita no futuro."
_Existem respostas que talvez nunca possamos ter.
"Por que então nos ensinaram a perguntar?"